Vanessa Stecanella
O Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais,
Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), projeto do governo federal que
vai unificar as obrigações sobre qualquer forma de trabalho contratada
no Brasil, continua gerando discussão e dúvidas entre empresários e
especialistas. O sistema de prestação de contas trabalhistas tem
encontrado resistência do empresariado que ainda não está confortável
com os prazos para sua implantação.
Em março deste ano, a Receita Federal atendeu ao pleito do empresariado
e estendeu até o próximo mês de outubro o período para as empresas com
lucro real (ou faturamento anual superior a R$ 78 milhões) começarem a
transmitir suas informações online. Outros contribuintes devem iniciar a
prestação de contas ao Fisco, pelo sistema, somente em janeiro de 2015.
Apesar do prazo maior para adaptação, a previsão ainda é de que o
eSocial vai acarretar em expressivo aumento de custos. A preocupação
também gira em torno da possibilidade de aumento das autuações. Segundo
especialistas, a percepção geral é de que, embora o sistema tenha o
objetivo de facilitar o envio de informações e trazer mais clareza à
prestação de contas, em um primeiro momento as empresas terão que
ampliar suas equipes de Recursos Humanos, Fiscal e Jurídico, promover
treinamentos e revisar a legislação para não cometer erros que possam
levar a autuações do Fisco.
Nesse sentido, o Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das
Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado
de São Paulo (Sescon-SP) concluiu recentemente um manifesto, que será
encaminhado ao governo, alertando para o fato de que a nova exigência
vai na contramão da simplificação, tendo em vista que indica aumento
expressivo de novos procedimentos e obrigações fiscais.
O documento surgiu a partir conversa com o ministro da Secretaria da
Micro e Pequena Empresa (Semp), Guilherme Afif Domingos, que tem
defendido que o eSocial é na verdade o e-Fiscal por exigir a
digitalização de uma série de informações, inviável para aqueles
empreendimentos de menor porte.
De acordo com o sindicato e entidades que compõem o Fórum Permanente em
Defesa do Empreendedor, o pedido de adiamento da vigência do eSocial
visa, em um primeiro momento, ampliar e dar publicidade às discussões
sobre a nova proposta de escrituração digital, com elaboração de um
cronograma de transição que não gere desequilíbrios, especialmente para
micro e pequenas empresas
"Acreditamos nos objetivos do projeto, que se propõe a trazer
transparência e segurança nas relações entre a administração pública,
empregados e empregadores, porém repudiamos qualquer mudança e imposição
que gere aumento de obrigações, trabalho e custos para os
contribuintes", destaca o presidente do Sescon-SP, Sérgio Approbato
Machado Júnior.
A advogada Camila Borel, do Martinelli Advocacia Empresarial, acredita
que as reivindicações são reflexos da falta de maturação do sistema.
"Isso foi aberto ao público com muita imaturidade. O governo ainda não
tem um layout pronto", disse.
Na visão da especialista, o eSocial terá impacto maior nas empresas de
menor porte e naquelas com um Recursos Humanos enxuto, uma vez que com o
advento do sistema o nível de informação será bem mais abrangente.
"Atualmente, o tipo de informação que se presta é bastante simplificado,
mas com a implantação do sistema informatizado o nível de comunicação
será bem mais abrangente", avalia Camila Borel.
Diante dessas reinvindicações, a Receita Federal garantiu, no mês
passado, a criação de um módulo simplificado do eSocial para micro e
pequenas empresas, um canal no YouTube com vídeos de orientação e
assegura que o mecanismo digital poderá servir para os empresários
avaliarem a redução do curso das despesas, atualmente, contraídas para o
envio de informações previdenciárias e trabalhistas. A versão
simplificada será elaborada por meio de uma parceria entre o governo e o
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Perfil
De acordo com a Receita Federal, apenas 700 mil micro e pequenas
empresas terão de comprar certificado digital para transmitir essas
informações. Esse instrumento é exigido das empresas que possuem mais de
sete empregados registrados.
Com mais de 1.600 informações ou campos diferentes, distribuídos em 44
tipos de arquivos XML, para preencher o novo sistema de prestação de
contas será necessário organizar o trabalho de várias áreas como
Recursos Humanos, segurança e medicina do trabalho, gestão de contratos,
assuntos jurídicos e administração financeira, incluindo a
contabilidade e a área fiscal.
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Fonte: DCI – SP |
terça-feira, 13 de maio de 2014
Prazo do eSocial ainda provoca reclamações
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